quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Livraria

Há roda de um ano que abriu a nova estação de metro do Saldanha. Foram construídas novas plataformas para a linha vermelha, com a assinatura do Arqt.º José Almada Negreiros. Pelas paredes brancas estão escritas a preto muitas frases das obras de Almada Negreiros. Não me lembro do dia ao certo, mas sei que desde a primeira vez que li esta frase que estou apaixonada por ela:

“Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam! Não duro nem para metade da livraria! Deve haver certamente outras maneiras de uma pessoa se salvar, senão… estou perdido.” Almada Negreiros.

Eu gosto muito de ler. Pensar em entrar num livraria cheia de livros que ainda não li, dá-me um nervoso miudinho de expectativa. Há tantos mundos que eu não conheço, tantas histórias com que eu ainda não me diverti, com que eu ainda não chorei, com que eu ainda não tive medo. Esta sensação é fantástica, saber que tenho muita coisa pela frente para descobrir. Não saber o que nos espera debaixo daquelas capas, não saber o que todos aqueles símbolos nos irão fazer sentir é muito bom.

Mas da frase vem um sentido de fim, de um fim de prazo que se aproxima. E dou comigo a pensar “Não vou conseguir lê-los a todos. Não vou conseguir saber como acabam. Vou-me embora daqui sem ter conhecido todos aqueles sítios.” Inevitavelmente, apodera-se o sentido de mortalidade. Não no sentido de “vou-me embora e ninguém vai dar por nada”, mas no sentido “há tantas coisas que não vou chegar a ver”. E fico um pouco triste, porque eu queria mesmo lê-los a todos, saber “tudo”.

Mas fico ainda mais triste quando conheço pessoas que não querem saber da livraria, que nunca ficaram felizes só com o simples contar dos livros. Não fazem ideia do que perdem.

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